O servidor negligente (Neio Lúcio - Chico Xavier)

À porta de grande carpintaria, chegou um rapaz, de caixa às costas, à procura de emprego.

Parecia humilde e educado.


O diretor da instituição compareceu, atencioso, para atendê-lo.


— Tem serviço com que me possa favorecer? — indagou o jovem, respeitoso, depois das saudações habituais.


— As tarefas são muitas — elucidou o chefe.


— Oh! por favor! — tornou o interessado — meus velhos pais necessitam de amparo. Tenho batido, em vão, à porta de várias oficinas. Ninguém me socorre.


Contentar-me-ei com salário reduzido e aceitarei o horário que desejar.

O diretor, muito calmo, acentuou:


—Trabalho não falta...


E, enquanto o candidato mostrava um sorriso de esperança, acrescentou:


—Traz suas ferramentas em ordem?


—Perfeitamente — respondeu o interpelado.


—Vejamo-las.


O moço abriu a caixa que trazia. Metia pena reparar-lhe os instrumentos.


A enxó se achava deformada pela ferrugem grossa.


O serrote mostrava vários dentes quebrados.


O martelo tinha cabo incompleto.


O alicate estava francamente desconjuntado.


Diversos formões não atenderiam a qualquer apelo de serviço, tal a imperfeição que apresentavam seus gumes.


Poeira espessa recobria todos os objetos.


O dirigente da oficina observou... observou... e disse, desencantado:


—Para o senhor, não temos qualquer trabalho.


—Oh! porquê? — interrogou o rapaz, em tom de súplica.


O diretor esclareceu, sem azedume:


—Se o senhor não tem cuidado com as ferramentas que lhe pertencem, como preservará nossas máquinas? Se é indiferente naquilo em que deve sentir-se honrado, chegará a ser útil aos interesses alheios? Quem não zela atentamente no “pouco” de que dispõe, não é digno de receber o “muito”. 


Aprenda a cuidar das coisas aparentemente sem importância. Pelas amostras, grandes negócios se realizam neste mundo e o menosprezo para consigo é indesejável mostruário de sua indiferença perniciosa. Aproveite a experiência e volte mais tarde.

Não valeram petitórios do moço necessitado. Foi compelido a retirar-se, em grande abatimento, guardando a dura lição.


Assim também acontece no caminho comum.


Quem deseja o corpo iluminado e glorioso na espiritualidade, além da morte, cuide respeitosamente do corpo físico.


Quem aspira à companhia dos anjos, mostre boas maneiras, boas palavras e boas ações aos vizinhos.


Quem espera a colheita de alegrias no futuro, aproveite a hora presente, na sementeira do bem.


E quantos sonharem com o Céu tratem de fazer um caminho de elevação na Terra mesma. 

Neio Lúcio;
Psicografia: Francisco Cândido Xavier;
Do Livro: Alvorada Cristã.


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