Projetos sociais auxiliam busca por saúde emocional

Atividades alternativas e tratamentos tradicionais e são usados por voluntários para apoiar pessoas com doenças psicológicas e ajudá-las a superar dificuldades
Nervosismo, medo, solidão e tristeza profunda são sintomas da depressão, doença muito comum na contemporaneidade. A população brasileira está em um contexto de alto índice de transtornos mentais e de comportamento, problemas que precisam ser enfrentados com cuidado e atenção. Para tentar ir além dos tradicionais tratamentos com psiquiatras e psicólogos, organizações em Brasília oferecem serviços alternativos e gratuitos que apoiam pessoas em situações psicológicas conflitantes.
Segundo o Ministério da Saúde, 9% da população brasileira sofre de depressão e ansiedade, dado considerado preocupante pelo órgão. Oferecer ajuda pode prevenir 90% das mortes por suicídio, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Dados da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) mostram que 80% das pessoas com depressão podem melhorar se receberem um tratamento correto. É nesse contexto que está o Terapeutas Sem Fronteiras (TSF), exemplo de instituição que conta com um grupo de voluntários dispostos a orientar os pacientes a lidar com os desafios emocionais do dia a dia.
Estão preparados para ouvir, apoiar e ampará-los por meio de atendimentos realizados inicialmente pelo telefone, que depois passam a ser presenciais, caso haja necessidade. Ainda com o objetivo de ajudar, possuem diversas opções de atividades: palestras sobre saúde e bem-estar, oficinas de origami, de tricô e de bordado e atividades em grupos, como as constelações familiares − dinâmica que envolve elementos do psicodrama, com o objetivo de resolver problemas pessoais.
Oficina de Ikebana foto: Terapeutas Sem Fronteiras
Oficina de Ikebana. Foto: Terapeutas Sem Fronteiras
A fundadora do TSF em Brasília, Maria Rodrigues, conta que trouxe essa proposta de terapia para a capital em 2011 com intuito de suprir a vontade que tinha de ajudar o outro. Ela e o marido foram os primeiros voluntários e começaram a atender ligações da casa onde moram, local utilizado até hoje para a realização das atividades. Formada em ciências da computação, ela se dedica hoje exclusivamente à instituição e explica que o papel dos voluntários é oferecer ferramentas ao paciente para que ele consiga resolver seus próprios problemas. “Passamos a vida inteira criando situações de desconforto e ‘ficamos viciados’ nos problemas. O que queremos mostrar no TSF é que cada um de nós é responsável pela própria vida e procuramos incentivar as pessoas a buscarem força para atingir os seus objetivos”, explica.
Jornada de atividades em grupo foto: Terapeutas Sem Fronteiras
Jornada de atividades em grupo. Foto: Terapeutas Sem Fronteiras
Maria conta que uma das propostas da instituição é disseminar o apoio mútuo, vivenciar o que é bom e estender isso ao outro. Por isso, é comum os voluntários conhecerem a instituição como pacientes para depois se disporem a ajudar. Para ser voluntário, basta ter comprometimento e vontade de ajudar, não importa a formação acadêmica.
É o caso da servidora pública Ismênia Almeida. Ela procurou ajuda no início de 2013 para superar uma crise de pânico e a claustrofobia e foi beneficiada pelos tratamentos do Terapeutas Sem Fronteiras. Conta que o tratamento foi muito positivo e a técnica do aconselhamento transpessoal a permitiu enxergar o que não conseguia sozinha. “É um efeito dominó, a gente vai se descobrindo e descobrindo. É mágico.” A experiência foi tão positiva que se ofereceu como voluntária e hoje auxilia nos aconselhamentos presenciais e nas oficinas. E garante que não pretende sair tão cedo do TSF.
A psicóloga Venina Kladi conheceu o TSF em 2011 e desde então é voluntária nos atendimentos por telefone e presenciais. Ela conta que a ajuda é feita com ferramentas para “se conectar com a própria força e se manter em estado de paz e bem estar, independentemente dos desafios emocionais que a pessoa venha a enfrentar, além de técnicas de como o planejamento de suas ações para alcançar seus objetivos”. E confirma os resultados positivos em ajudar: “Minha grande recompensa é me cuidar cuidando do outro, pois nossas dores são as mesmas. Acolho, qualifico e auxilio o próximo em sua busca por bem estar, liberdade e amor. O brilho no olhar, o fortalecimento e as ações de quem atendi, a transformação do ser que resgatou sua essência me estimulam”.
Massagem alternativas foto: Terapeutas Sem Fronteiras
Massagem alternativas. Foto: Terapeutas Sem Fronteiras
Venina afirma que a maioria dos atendimentos feitos pelos voluntários do TSF são com pessoas que têm dificuldades financeiras.  Este é o caso de Luciana*, que tem problemas com depressão e não tem condições de pagar um psicólogo.  “Desde que comecei a participar das reuniões e a receber ajuda no atendimento por telefone, não tenho do que reclamar. É um acompanhamento constante, semanal, sempre tem uma pessoa para acolher, e é tudo gratuito. O mais importante é a proximidade e amizade dos voluntários conosco”, descreve.
Outra forma de ajudar
Assim como no TSF, no Centro de Valorização da Vida (CVV), voluntários também doam o seu tempo para escutar o desabafo de desconhecidos. Cerca de 60 indivíduos na cidade de Brasília dispõem quatro horas toda semana, para, por meio da linha telefônica, dar apoio emocional a pessoas desamparadas, 24 horas por dia, todos os dias da semana.
O CVV é uma das mais antigas organizações não governamentais (ONG) do Brasil. Foi fundado em 1962, por um grupo de voluntários preocupados com as pessoas que passavam por estresse pós-traumático e não tinham acesso a tratamento. Sua principal iniciativa é o programa de apoio emocional e prevenção ao suicídio, realizado por telefone, chat, e-mail, correspondência ou pessoalmente em um dos 73 postos do CVV em todo o país. Tudo com total sigilo.
Gilson Aguiar é voluntário no CVV há 13 anos. Formado em psicopedagogia, atualmente faz parte da coordenação de divulgação da entidade. Ele conta que se interessou pelo voluntariado quando viu o anúncio de recrutamento no jornal, mas, por falta de tempo, só ingressou na ONG dois anos depois. “Eu me apaixonei pela filosofia do trabalho, às vezes você pensa que está ajudando, mas acaba sendo ajudado muito mais”, conta. Ele ressalta o crescimento pessoal que teve desde que ingressou e orienta que a intenção da instituição não é dar conselhos, e sim conversar com a pessoa do outro lado da linha e ouvir o que ela tem a dizer.
O coordenador também conta que toda pessoa tem que ser acolhida quando procura a entidade, não importa o que tenha feito. Ele diz que em cada plantão são atendidas cercas de seis pessoas atrás de apoio emocional e, em média, 15 trotes. O número de atendimentos poderia dobrar se tivesse mais voluntários: o ideal seria que a ONG contasse com, em média, mais 30 pessoas. “É preciso ter paciência e querer ajudar o próximo”, observa.
A estudante de biologia Lívia Espíndola está na instituição há um ano. Segundo ela, o interesse em ser voluntária surgiu aos 16 anos, mas um dos pré-requisitos é ser maior de 18 anos. Assim que completou a maior idade realizou o curso para ingressar no CVV e não foi aprovada, mas não desistiu, no ano seguinte tentou novamente e conseguiu. “É um trabalho muito bonito, é muito bom se sentir útil e saber que conseguiu aliviar a angústia de alguém”, conta.
Oportunidades e riscos
Para que o TSF e o CVV sejam eficazes no auxílio de pessoas com necessidades psicológicas, segundo o psicólogo Marcelo Tomokiti, 31 anos, é necessário ter alguns cuidados. “Considero um risco pela possibilidade de voluntários, mesmo com boa vontade, quererem tratar as pessoas que os procuram e deixarem de encaminhar para os profissionais competentes, podendo agravar ainda mais a situação da pessoa atendida. A não ser que esse trabalho seja feito por profissionais da área”, explica o especialista.
O CVV busca atender com respeito e anonimato, sem julgar e com máximo de sigilo sobre tudo que for dito. Foto: CVV
O CVV busca atender com respeito e anonimato, sem julgar e com máximo de sigilo sobre tudo que for dito. Foto: CVV
Entretanto, ele ressalta que é uma oportunidade de inclusão. “Muitas pessoas precisam de ajuda e não sabem onde procurar ou não têm condições financeiras para arcar com os investimentos de uma ajuda paga”, afirma.
Dos 90 voluntários atuantes do TSF, Maria garante que a maioria é formada em psicologia ou em alguma outra área da saúde. No entanto, ressalta que a formação não é requisito para ser voluntário: “O que basta é sentir no coração a necessidade de ajudar. É essa dedicação sincera que vai fazer a diferença para os pacientes superarem desafios”. Como o maior objetivo é ouvir e dar apoio emocional de outra perspectiva, o que o Terapeutas Sem Fronteiras faz é passar a linha de atuação ao voluntário para ele entender as técnicas, não vendo a necessidade de cursos de formação mais aprofundados.
Já o CVV abre o processo seletivo para voluntários duas vezes por ano. Os selecionados precisam fazer um curso de capacitação com carga horária de 40 horas. É necessário também, a cada dois anos, realizar um curso de reciclagem. A entidade ainda oferece reuniões de grupo todo mês para dar apoio psicológico ao voluntário.
Conheça mais sobre os projetos no site do CVV e no do TSF.
Fonte: https://dfsolidario.wordpress.com/

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