Espiritismo Vivenciado (Espírito Lucius)

— Mas irmão Ribeiro, e o que acontece com aqueles que sempre aprenderam as verdades eternas, leram os livros, ouviram as advertências do mundo invisível, e até eram médiuns ou trabalhadores? Por que, em nosso sanatório, estes são mais abundantes em número do que os que ignoraram os chamamentos de Deus?

Entendendo o desejo de aprendizado do companheiro de lutas, Ribeiro fez um gesto de compaixão e disse:

— Espiritismo prático, Alencar. Diferente de espiritismo praticado. Muitas pessoas se encantam com a novidade e sonham com as possibilidades que lhes são abertas pelas vias da sensibilidade, nos diversos estágios de serviço que a solidariedade humana faculta. Entretanto, negligentes consigo mesmos e com as coisas de Deus, se transformam em máquinas, rejeitando a necessidade de se espiritualizarem a si mesmos. 

Observamos o perigoso processo da auto-obsessão quando o encarnado, orgulhoso, vaidoso e imaturo se crê preparado para o paraíso porque dedicou alguns minutos de sua vida à prática da caridade material, entregando alguns sanduíches ou aplicando alguns passes. Esquecem-se, porém, do que é importante. Quando olham para os irmãos de outras crenças, muitas vezes pensam que aqueles pobres cultivadores de rituais, frequentadores de cerimônias infindáveis e monótonas estão perdidos por não conhecerem as leis do Espírito como a doutrina cristã espírita lhes revela. No entanto, não reconhecem que estão praticando o espiritismo como o católico vai à missa e, às vezes, até com menos unção do que este. 

Pela secular preguiça que os contamina, imaginam os frequentadores de centros que conseguiram o “passaporte especial”, aquele que lhes garante o atendimento prestigioso por parte dos Espíritos desencarnados, enquanto que aos demais, a segunda ou terceira classe, o umbral é o máximo que se lhes possa conceder. 

Como vê, meu amigo, são crianças mimadas que se pensam adultas e que, ao aqui chegarem, têm que enfrentar uma verdade para a qual não se prepararam: a de que não basta dar coisas. Surpresos pela falta de méritos essenciais, revoltam-se imaginando que a caridade material não lhes foi devidamente computada ou o foi em valor bem menor do que eles próprios supunham. Não entendem que não é pelo valor material que o universo considera seus méritos, mas porque tais comportamentos não nasceram de um coração transformado pelo bem sincero.

Daí podermos dizer, Alencar, que quando este tipo de espírita morre no mundo, deixa gente chorando dos dois lados da vida. Os encarnados que pranteiam a sua partida e os Espíritos que terão que acolhê-los “chorando” por sua chegada deste lado, sempre exigentes e difíceis, a quem teremos que atender, esperando por privilégios que não fizeram por merecer. São crianças arrogantes e temperamentais, insatisfeitas com tudo o que encontram e indispostas a qualquer mudança de pensamento. Vivem no comodismo de se pensarem isentos de deveres por causa do espiritismo que conheceram no mundo, esquecendo-se de que, se o conheceram realmente, mal o praticaram.

A maioria deles não pode dispensar o estágio no sanatório para o tratamento de longo curso, sobretudo depois que percebem o desperdício da preciosa oportunidade que tiveram na existência. Enquanto isso, alguns católicos, evangélicos e de outras vertentes religiosas prosseguem adiante, na direção de novas experiências evolutivas. Se algo pudéssemos aconselhar aos que se dizem espíritas, seria que não se permitam adormecer na esperança de facilidades do lado de cá. 

Que aproveitem o conhecimento que possuem e se cuidem, porquanto, do mesmo modo que na Terra a doença ataca tanto os que com ela se contagiam quanto os médicos, mais expostos ao contágio porque se esforçam em combatê-la, na vida verdadeira o desequilíbrio se verifica tanto naqueles que não conheciam as leis morais quanto, muitas vezes, é mais intenso naqueles que a recomendavam aos outros, mas não as seguiam.

Espírito Lucius;
Psicografia: André Luiz Ruiz;
Do livro: No Final da Última Hora, cap. 29.



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