Eunice Sousa Gabi Weaver (1902-1969)
Nasceu numa
fazenda de café, na cidade de São Manoel interior de São Paulo, em
19/09/1902, filha de Henrique Gabbi - carpinteiro, natural da província
de Reggio Emilia, Itália - e de Leopoldina Gabbi - natural de
Piracicaba/SP. Sua vida foi totalmente dedicada aos portadores do mal de
hansen e suas famílias.
Era
portadora de beleza particular, impressionava pela altivez sem
imposição, pela decisão sem arrogância e pela simplicidade repassada de
nobreza. Sua mãe, de origem suíça, falava muitas línguas, imprimia
hábitos de estudo e princípios morais austeros. Eram muito amigas, e
quando ela morreu moravam em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Foi
estudar em São Paulo e, durante as férias na fazenda, ocorreu este fato.
" Começo de século, São
Paulo, fazenda de café, próspera. No terreiro, vagaroso como numa
procissão, vem entrando um bando em farrapos, os rostos ocultos. São
mendigos, doentes, associados na miséria, no abandono da vida, que
apanham agasalhos e alimentos deixados na porteira. As crianças da Casa
Grande são levadas para dentro, às pressas, portas fechadas, cortinas
corridas. Uma das meninas se esconde. Súbito, uma mulher abandona o
grupo e aproxima-se. Há nela um vago ar aristocrático, restos de
nobreza, voz serena, escondida na sombra do grande chapéu de palha, não
se vê o rosto: - "Sou Rosa! Mesmo que não se lembrem de mim, quero
agradecer. Meus pais dizem que me suicidei, é melhor assim, seria
segregada; joguei minha roupa no rio, pensaram que me afoguei. Casei-me
com aquele homem. Nessa vida de cigano é melhor ser um só". Rosa
Fernandes fora uma linda jovem, filha de vizinhos, que se tornou
cobiçada donzela e que a todos encantava, mas que havia, a algum tempo,
desaparecido. Esta moça tinha contraído lepra nos tempos de colégio."
Nunca
mais Eunice esqueceria os "Olhos de Rosa", e a partir deste episódio,
começava o seu trabalho em benefício dos nossos irmãos chegados, como a
Grande Servidora do Bem. Ela talvez não tenha feito nada por Rosa
Fernandes, mas o fez por muitas "Rosas" que desabrochavam dos seios de
hansenianos, e que por enfermidade de seus pais não podiam permanecer
com eles.
Em 1927,
reencontrou Charles Anderson Weaver, que havia sido seu professor de
latim. Dirigia o Colégio Granbery, havia enviuvado e tratava da edição
de seu livro, em São Paulo. Eunice ficou fascinada por sua cultura,
inteligência, bondade e brilhantismo de idéias. Quando se casaram foram
morar em Juiz de Fora, onde lecionou História e Geografia. Foi mais do
que um simples matrimônio, antes um encontro de almas mutuamente
dedicadas, que se reuniram para um sublime ministério de amor e
solidariedade humana.
Em
seguida, Dr. Weaver foi convidado pela Universidade de Nova Iorque, a
dirigir uma universidade flutuante, a bordo de um luxuoso
transatlântico, que faria uma longa viagem, para melhor formação de seus
alunos em volta do mundo. Aceitando o honroso convite, partiu do Rio de
Janeiro, acompanhado pela esposa em inesquecível cruzeiro de cultura e
amor.
Eunice aproveitou
para estudar jornalismo, sociologia e filosofia oriental visitando 42
países. Mais tarde, estudou na Columbia University e fez curso de
Serviço Social na Universidade de Carolina do Norte (EUA).
Como repórter, trabalhou durante a viagem, viveu um dia inteiro num templo budista, foi até o Himalaia de jumento e entrevistou durante quatro horas Mahatma Ghandi, um dos fatos mais emocionantes de sua vida - "Foi o homem mais próximo de Jesus Cristo que conheci".
Por
onde andaram, ela procurou conhecer de perto o problema da lepra, o que
em relação a ela se havia feito e o quanto restava por se fazer.
Estagiou em numerosos leprosários: nas ilhas Sandwich (no Pacífico Sul),
no Egito, na China, no Japão e na Índia. Em todo lugar recolhia
material de experiência para o ministério redentor a que iria se
entregar totalmente.
De
volta ao Brasil, em Juiz de Fora, começou a fazer a campanha de
assistência aos leprosos. Foi fundada a Sociedade de Assistência aos
Lázaros, pois, em Minas Gerais, nesta época, o problema da lepra era
terrível: o trem passava de madrugada, o vagão de segunda classe cheio
de doentes encaminhados ao único leprosário em Belo Horizonte, o Santa
Isabel; e ela levava à estação, roupas, cobertores e refeições. A
recomendação era sempre a mesma: "Dona Eunice, tome conta de nossos
filhos, não os deixe passar fome, não permita que fiquem doentes com
esta terrível moléstia". Aquilo ficava em seus ouvidos. Sabia que a
lepra não era hereditária, e a primeira campanha foi organizar
preventório, mais tarde, transformados em educandários, com a
preocupação de educar crianças sem recalques, fazendo-as participar da
comunidade em condições normais.
Em
1935, com muita coragem, conseguiu convencer o Presidente Getúlio
Vargas a ajudar oficialmente a obra, que lhe prometeu dar o dobro do que
ela conseguisse junto a sociedade civil. Naquela época, a classe
política se esquivava do assunto pois acreditavam que a causa da lepra
não daria frutos políticos. Após esse acordo, Eunice passou a viajar por
todo o Brasil, lançando a campanha da Federação das Sociedades de
Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.
Uma
das passagens mais interessantes durante as construções dos
Educandários se deu no Amazonas. Eunice estava no canteiro de obras da
futura instituição que iria abrigar os filhos dos hansenianos daquela
região quando, de repente, um bando de jagunços aparece e tenta impedir a
obra sob a alegação que não queriam um leprosário no local, pois na
região não existia lepra. Eunice então, sugeriu ao líder dos jagunços
que subissem o rio onde, em poucas horas ela lhe mostraria algum
leproso, caso contrário, não construiria o Educandário. Nesse instante,
pegaram um barco e subiram o rio. Após várias horas percorrendo o
referido rio, nenhum leproso foi encontrado.
Os
jagunços, com sua costumeira arrogância e cheios de si por terem
conseguido impedir a construção do leprosário, resolveram dar a questão
por encerrada. Entretanto, num determinado momento, Eunice vendo uma
choupana, disse: "Pare, aqui tem lepra!" Ao descerem do barco concluíram
que dentro da choupana haviam mais de trinta leprosos. O líder dos
jagunços, atônito com o fato ocorrido, abandonou as suas funções de
jagunço e passou a ajudar na construção do Educandário. Surgia naquele
momento o primeiro coordenador do Educandário de Manaus.
Dona
Eunice Weaver esteve presente, também, em memoráveis labores
assistenciais, criando e ajudando obras meritórias surgidas no Brasil,
como verdadeira sacerdotisa da fraternidade. Foi a primeira mulher a
receber, no Brasil, a Ordem Nacional do Mérito, no grau de Comendador,
em Novembro de 1950, e também o troféu internacional "Damien-Dutton"
(pela primeira vez outorgado a uma pessoa da América do Sul). Publicou a
"Vida de Florence Nightingale", "A Enfermeira" e "A História
Maravilhosa da Vida". Representou o nosso país em inúmeros congressos
mundiais sobre a doença, organizou serviços contra a lepra no Paraguai,
Cuba, México, Guatemala, Costa Rica e Venezuela. Em 1960, Eunice Weaver
recebeu o título de Cidadã Carioca ao completar 25 anos na direção da
Federação e, em 11/09/1965, por indicação do vereador Pedro de Castro,
recebeu o título de Cidadã Honorária de Juiz de Fora. Em Outubro de
1967, foi para a ONU como delegada brasileira no 12º Congresso Mundial.
Sofreu,
entretanto, incompreensões e experimentou amarguras sem fim. Corajosa e
arrebatada, possuía elevado caráter, que a permitiu manter-se lutando
tenazmente em defesa dos seus "filhos", enfrentando dificuldades
compreensíveis e situações complexas, nunca lhe faltando, porém, os
auxílios da misericórdia do Senhor, e em hora alguma foi escasso o
socorro do céu!
Apesar
das dificuldades naturais, no mais, tudo eram felicidades e contínuas
alegrias. Mas, a batalhadora Eunice Weaver perde inesperadamente o
esposo, rompendo-se o elo de luz que lhe sustentava o equilíbrio no
labor de consolação e de misericórdia. Na ausência do sempre solícito
esposo, a jornada a sós lhe é mais difícil. Amigos leais buscaram
animá-la, confortando-a e encorajando-a para a luta, mas a ausência
física do idolatrado companheiro, pungia fortemente.
Entretanto,
em 1959, uma de suas amigas a levou até Pedro Leopoldo para conhecer o
médium Chico Xavier e, a mensagem de paz e otimismo transmitida pelo
médium, lhe deu forças para continuar. Ela, agora sentia que seu marido
não a abandonara. E, com garra, voltou a enfrentar todas as tarefas que a
vida lhe impusera. Ora era a luta por verbas sempre escassas e
difíceis, adiante, os serviços administrativos fatigantes. As viagens
contínuas e exaustivas, continuavam sustentadas pelo amor, feito de
renúncia pelos menos favorecidos - "Os filhos do Calvário"-, marchando
em direção do amanhã ajudada por centenas de mulheres valorosas que
ainda prosseguem inspiradas no seu imorredouro exemplo.
Sempre
trabalhando, faleceu em 9 de Dezembro de 1969, aos 67 anos, como sempre
vivera: dedicada ao próximo. Terminando de discutir compromissos com o
Governo do Rio Grande do Sul, ela voltava feliz na expectativa de
melhores dias para aqueles a quem considerava os seus de coração, quando
foi subitamente chamada para a Vida Espiritual. Transladado seu corpo
ao Rio de Janeiro, lá foi velado na Igreja Metodista e sepultada no
Cemitério dos Ingleses, ao lado do seu idolatrado esposo.
Seu trabalho missionário, entretanto, cresceu e prossegue no ministério do socorro e apoio aos hansenianos e suas famílias.
"Gigante
como Eunice Weaver não morre; é como a vela: Se gasta no afã de servir,
iluminando o caminho de alguém". Rev. Manoel H. da Silva
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Eunice
Weaver foi uma das mulheres mais brilhantes do país, dedicando-se toda a
vida aos cuidados aos hansenianos. Era detentora do título "A Servidora
do Bem".
Eunice Sousa
Gabi Weaver nasceu em 1904 em uma fazenda de café de São Manoel, SP e
recebeu educação rígida, de princípios morais austeros, por parte de sua
mãe, de origem suíça. Era muito bela e impressionava pela altivez sem
imposição, pela decisão sem arrogância e pela simplicidade com nobreza,
segundo contam pessoas que conviveram com ela.
Casou-se
em 1927 com Charles Anderson Weaver, diretor do Colégio Granbery.
Acompanhando o marido, visitou 42 países e estudou Jornalismo,
Sociologia, Serviço Social e Filosofia Oriental. Interessou-se pelo
problema da lepra e, de volta ao Brasil, fundou em Juiz de Fora a
Sociedade de Assistência aos Lázaros.
Todas
as madrugadas ela ia para a estação ferroviária dar assistência durante
o embarque de leprosos que eram encaminhados ao leprosário de Belo
Horizonte. Para cuidar dos filhos dos leprosos - a doença não é
hereditária - Eunice Weaver fundou o Educandário Carlos Chagas. Faleceu
em 1969.
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Crônica de Vera Brant da página: http://www.verabrant.com.br/quadro01.htm
EUNICE WEAVER- Uma vida para o bem
Eu
não entendo porque certas pessoas envelhecem sorrindo", disse-me um
amigo. Eu já entendia um pouco e passei a compreender muito mais no dia
em que assisti a conferência dessa fabulosa senhora de cabelos
grisalhos, olhos brilhantes e personalidade incomum: Eunice Weaver.
Foi
há mais de trinta anos, ela era uma moça alegre, fez curso de
sociologia e sentiu-se feliz com o seu diploma e capaz de, com ele,
consertar o mundo, saltar as barreiras todas, vencer.
Hoje
ela revive os seus primeiros passos e as suas primeiras lágrimas. Um
dia foi chamada pelo Presidente Getúlio Vargas para promover a
instalação de educandários, em todo o País, a fim de receber os filhos
dos leprosos que viviam, naquela época, à beira das estradas, jogados
como lixo, porque as sociedades não os aceitavam nas suas proximidades.
Montada
no cavalo, saiu a moça Eunice para a sua missão sem pensar, com
certeza, que aquele momento significava o início de uma caminhada que
duraria toda uma vida.
Sua
primeira tristeza foi quando teve que convencer aos filhos das mulheres
leprosas que eles deveriam se separar de suas mães para que pudessem
crescer em ambiente são, livres da moléstia tão rude e tão má que
atingira seus pais.
E
quando pediu as essas mães que a deixassem levar os seus filhos para que
pudessem, livres da doença, conviver com a sociedade e serem úteis a
ela (essa mesma sociedade que as havia expulsado de seu convívio).
E
as suas primeiras lágrimas brotaram quando essas mulheres, com as
fisionomias de um sofrimento que ela não sonhava existir, abraçando com
amor seus pequeninos filhos, abriam os braços permitindo que ela os
levasse, eles, os seus filhinhos queridos, a única alegria naquele mundo
de pesadelos, de isolamento e de dor.
A
moça Eunice prosseguiu sua caminhada e veio construindo casas para
receber essas crianças, veio construindo um mundo novo para que essa
gente pudesse ter um mínimo que uma criatura humana pode exigir: Saúde e
um lar.
Onde ela passava
deixava o seu rastro de bondade e ia recolhendo seres humanos que se
comoviam com o seu trabalho e passavam a fazer parte da sua equipe,
movidos pelo amor ao próximo.
Um
dia, já agora de cabelos brancos, D. Eunice recebeu uma carta de um
leproso e, mais uma vez, se emocionou. Ele agradecia a acolhida que seus
filhos tiveram num dos educandários, falava da boa alimentação, da
educação, do carinho com que foram recebidos e, muito especialmente,
agradecia o amor que os havia tornado bondosos e generosos. E fazia uma
pergunta à D.Eunice, que a deixou engasgada de emoção. Mas esclarecia: a
senhora pode não responder, se achar que não deve, mas eu preciso fazer
para me desabafar: Por quê a senhora escolheu, na vida, este caminho
tão duro, de cuidar dessa raça de gente inválida que todo mundo tem
pavor?
Dona Eunice não
respondeu. Sorriu. Sorriu recordando as outras cartas de engenheiros,
aviadores, advogados, professores, todos filhos de leprosos e por ela
encaminhados na vida, durante esses trinta anos, narrando as suas
vitórias, as suas conquistas, os seus trabalhos, que deram às suas vidas
as alegrias sadias dos que são construídos com AMOR.
O Amor dessa maravilhosa EUNICE WEAVER.
Fonte:www.feparana.com.br/biografia.php?cod_biog=89
Meu nome Agnaldo Gama Pereira, moro em Salvador-Ba.
ResponderExcluirSou praticamente Filho de Eunice Weaver pois, ao nascer em um leprosário D.Rodrigo de Menezes, aqui na Bahia,no meu nascimento fui levado para este Educandário que e a minha vida.
Me Doi ver aquele lugar se acabando,e o Coordenador deixando se acabar,e ninguém faz nada.ele já vendeu a maior parte da área para um condomínio que se utilizou do nome do educandário. Sem se falar nos funcionários que ele mantem la, mesmo sem ter crianças,porque não tem como pagar as rescisões. Hoje sou representante dos filhos separados dos pais nos internamentos compulsório,sou representante pelo Morhan,só gostaria de saber se tem alguém pode me ajudar para que o Sr Afonso não destrua aquele lugar.
Por favor se puderem me encaminhem a alguém que possa me ajudar a reaver aquele lugar pois faz parte da minha historia e de muitos outros que por ali passaram.