Um Caso de Intolerância Religiosa

Num  vilarejo vizinho de Lyon, o pároco da cidade bateu à porta  de uma ovelha desgarrada ao descobrir que andava ocupada com a leitura de O livro dos espíritos. 

Aos berros, como se discursasse num púlpito para a multidão de fiéis, ameaçou a velha senhora de não enterrá-la quando sua hora chegasse e exigiu a entrega do livro satânico.

Depois de se recuperar do susto, a leitora bateria à porta do pároco para pedir o livro de volta. O exemplar lhe pertencia — argumentou  — e seria difícil e injusto ter de comprar outro. 

Contrariado, o padre devolveu o volume à dona. Ou melhor, o que restava dele, agora repleto de rasuras, anotações furibundas e refutações de todo o tipo.

Ao lado  do  nome  de  cada  espírito  “santo” identificado  como  fonte  das revelações, o padre escreveu um insulto: mentiroso, demônio, estúpido, herege.

A própria senhora narraria o drama a Kardec, através de carta, e se proclamaria  mais espírita do que nunca  depois de ouvir tantos  impropérios: 

“Perdoai-lhe, Senhor, porque  ele não  sabe o que fez. De que lado estava o verdadeiro cristianismo?”

Kardec então se lembrou do pároco que, anos antes, convocara a população a entregar todas as obras espíritas que tinha em casa para que, juntos, numa bela celebração cristã, alimentassem uma imensa fogueira na praça pública. Ficou sem combustível para o fogo.

(Pagina 327 do livro Kardec a Biografia de Marcelo Souto Maior)







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