Sorte e Azar

As pessoas em geral estão acostumadas a analisar os acontecimentos do cotidiano sob a ótica superficial das aparências, considerando fatos e fenômenos segundo se lhes apresentam exteriormente.

Quando algo aparentemente ruim acontece, é comum ser considerado azar, e se algo supostamente bom sucede, chama-se de sorte. Que significam essas palavras? Têm elas real significado em nossas vidas?

Se alguém recebe inesperadamente algo “bom”, como por exemplo grande soma de dinheiro, promoção profissional, ou tem um relacionamento feliz, isso é considerado sorte, como se a pessoa tivesse sido premiada por algum fator aleatório.

Nossa visão da vida é sempre muito limitada, portanto nunca podemos julgar com acerto se o que acontece a alguém lhe é ou não benéfico. Não temos capacidade de afirmar qual o significado real dos acontecimentos. Muitas bênçãos nos chegam disfarçadas de incômodos e inúmeras infelicidades se apresentam com enganosa máscara de alegria.

A Doutrina Espírita esclarece que estamos todos sujeitos aos mesmos desígnios e leis que nos governam os destinos. O Espiritismo, além das obras básicas, através de inúmeras outras, nos apresenta casos reais, nos quais são narrados os dramas, as escolhas de cada ser e suas consequências, felizes ou não, imediatas ou tardias, e os resultados do que se fez com o exercício do livre-arbítrio.

O que chamamos hoje de sorte é o resultado do esforço de ontem, assim como os esforços do presente representarão a “sorte” do amanhã. Do mesmo modo, o “azar” do presente é a consequência da imprevidência ou dos erros do pretérito, e os desacertos do momento se refletirão no “azar” do futuro. Estamos constantemente colhendo o que plantamos no passado e semeando para o futuro. Não existe acaso nas Supremas Leis que regem o Universo e a Vida. Pessoas aparentemente afortunadas na existência atual são as que, em encarnações passadas, trabalharam muito e conduziram corretamente suas vidas, criando um crédito cármico que usufruem no presente.

Muitas vezes se recebem benefícios sem que se haja esforçado para tanto. Nesse caso, a vida, como manifestação do infinito amor divino, pode estar oferecendo uma oportunidade ao ser a fim de que a aproveite para a própria transformação e crescimento espiritual. Quando estiver mais madura e consciente, a alma saberá retribuir à vida a concessão recebida servindo a outros irmãos necessitados de ajuda.

A uma pessoa que tenha vida virtuosa e correta pode suceder algo “ruim”, que ela aparentemente não mereça, o que se considera azar. Pode ser um caso de provação, em que o fato desagradável constitui aferição de valores conquistados e estímulo ao exercício de virtudes. Pode ser também um impulso evolutivo, o que ainda é difícil de ser aceito por nossa compreensão superficial.

O ser verdadeiramente espiritualizado não dá importância ao que se chama de sorte ou azar, pois sabe que colhe hoje tudo o que semeou no passado e que recebe da vida tudo o que seja benéfico e necessário à sua evolução. O mesmo vale para as coletividades. Cada grupo social, povo ou nação recebe da vida de acordo com suas condições cármicas e necessidades evolutivas, não havendo, pois, nenhum grupo humano desfavorecido ou privilegiado. Tais informações não devem justificar a omissão diante dos sofrimentos alheios, pois podemos – e devemos – mudar o destino para melhor. Ajudando no presente a melhorar a sorte alheia sentimos desde agora a alegria de servir e estamos construindo para todos a felicidade do amanhã.

A humanidade terrestre, predominantemente materialista, vem buscando, através dos tempos, todas as formas de favorecimento e benefícios indevidos, procurando obter vantagens sem possuir merecimento nem trabalhar para conquistá-los. Essa busca inconsciente de privilégios só lhe tem trazido sofrimentos e desvantagens, pois quando se aproveita de algo não conquistado cria-se um desequilíbrio perante as leis da vida, que obrigatoriamente deverá ser reajustado, às custas de trabalho e, muitas vezes, lágrimas.

Com o despertar da consciência, individual e coletiva, se perceberá que a única “sorte” que existe é a conquistada pelo trabalho, paciência, perseverança e disciplina, pois qualquer outro meio constitui ilusão e busca de algo prejudicial à evolução de si mesmo e do grupo a que se pertence. As únicas riquezas materiais legítimas são fruto de trabalho honesto e usadas com desprendimento visando o bem comum. O mais é ilusão, ignorância das leis divinas e fuga às responsabilidades que todos temos perante a vida.

Com essas informações espirituais, não há mais espaço para comparações entre os seres nem para a cobiça, pois se sabe que cada um tem o que merece, escolhe e necessita para evoluir. Sorte e azar deixam de ter qualquer significado, pois são apenas aparências de realidades muito mais profundas e complexas.

O que muitos consideram a sorte de alguém pode ser para ele instrumento de queda espiritual e de grandes sofrimentos futuros, que são desconsiderados por uma análise superficial.

A vida, como manifestação do Criador, é infinitamente generosa, oferecendo aos Seus filhos tudo o que seja necessário à felicidade humana. Quem vive em comunhão com o Pai, cumprindo Seus desígnios corretamente e ofertando o melhor de si, recebe em abundância o que for necessário à jornada evolutiva. Todos os seres humanos, como filhos de Deus, desde que vivam em harmonia com as divinas leis, têm direito natural à “sorte” de possuir o que de melhor a vida oferece.

Todos nós, ao longo do caminho evolutivo, já fomos “sortudos” e “azarados” em todos os aspectos da vida, trocando de posição a cada nova experiência reencarnatória. Por isso devemos nos empenhar no aprendizado e no serviço, na autotransformação e renovação interior pela prática da caridade, pois assim mereceremos a “boa sorte” da felicidade que está destinada a todos os filhos do Criador.

André de Paiva Salum 






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