Superfície escura do Brasil (Lucius)


Conduzidos por Bezerra, o grupo rumou para o alto, aproveitando a escuridão da noite sobre o Brasil.

Numa viagem ascendente rápida, atingiram um nível de onde se podia vislumbrar toda a Pátria do Cruzeiro e, ainda, o contorno das outras nações irmãs, igualmente embaladas pela noite que abrangia o continente e parte dos oceanos.

- Daqui, filhos, podemos observar alguns detalhes interessantes que só o olhar espiritual consegue divisar. Observem a superfície escura do país que nos recebe com suas generosas concessões.

Olhando para o solo escuro embalado pelo véu noturno, a visão espiritual era capaz de identificar não somente a luz das cidades rutilando como pequeninos pirilampos ao sabor das emanações da atmosfera; Adelino e Jerônimo, com maior acuidade espiritual, observavam espessas nuvens escuras planando sobre vastas regiões do continente, concentrações estas que se mantinham mais densas sobre os maiores centros urbanos, onde pareciam ser densa fuligem produzida por incessantes emissões poluentes.

Alfredo, ainda preso ao corpo físico pelo laço de energia não observava a cena com a mesma riqueza de detalhes, ainda que visualizasse a vastidão de manchas escuras espalhadas por todas as grandes cidades do continente sul-americano.

Amparado pela ação poderosa de Bezerra, Alfredo viu ampliadas suas capacidades de percepção para que observasse com o aproveitamento desejado. 

- Meu Deus, o que é isso, doutor? Parece fumaça da queima de petróleo? – perguntou, espantado, com sua pouca familiaridade com fenômenos daquele tipo.

- Não, meu filho. Se fossem incêndios de refinarias, ainda assim seria menor o prejuízo para os encarnados, porque o esforço dos bombeiros, mais cedo ou mais tarde, conseguiria apagá-los – explicou Bezerra. Estamos diante da criação constante da mente dos próprios homens, Alfredo. Graças a eles, a massa escura, assemelhada a fuligem betuminosa, se eleva constantemente, originando-se na impropriedade de pensamentos e sentimentos. Então, volta-se contra os próprios encarnados, abastecendo-os com os miasmas que criam. Se se tratasse de uma fumaça tóxica do campo atmosférico, o vento as dissiparia e os fenômenos da natureza minimizariam o seu impacto. Entretanto, dotada de especiais características, dentre as quais a da imantação magnética, as suas estruturas densas permanecem sobre os centros que as exalam, na multiplicação das angústias, na falta de disciplina de comportamentos, nos gastos fluídicos de teor inferior. As condutas mentais e emocionais das pessoas são a matriz de tais nódoas coletivas pesando sobre os núcleos populacionais que os fomentam.

Observando outras áreas menos afetadas, Alfredo arriscou:

- Quer dizer então, doutor, que nestas outras partes menos enegrecidas, tem gente pensando ou praticando menos maldade?

Sorrindo diante da observação ingênua, mas sincera Bezerra respondeu:

- Bem, Alfredo, poderíamos dizer que, nestas outras áreas, há “menos gente”. E como há menos habitantes fornecendo emissões negativas, os que habitam os centros menos povoados contam com a bênção de serem menos atacados por todas as energias inferiores. Há pensamentos inadequados também, mas as forças inferiores, menos concentradas por terem menos fontes de emissão, acabam sendo neutralizadas mais rapidamente pelas forças reequilibrantes do magnetismo da própria natureza. Além do mais, estes centros menores têm menos armadilhas para seus habitantes, menos opções de lazer dilacerante, destruidores do equilíbrio do Espírito. Se observarmos as rotinas noturnas das grandes cidades, perceberemos que o avançar da noite é a senha para o desabrochar de todos os tipos de devassidão, sob a justificativa de espairecimento ou de diminuição do estresse diário.

Isso já não é visto com tanta intensidade nas cidades menores nas quais, à exceção de uma ou outra festividade ocasional, as pessoas se recolhem mais cedo à intimidade de seus lares, mantendo uma rotina menos exaltada, favorecendo o equilíbrio emocional dos seus habitantes.

- Mas e as pessoas boas que vivem nesse oceano de fuligem? Acabam prejudicadas por tais vibrações da mesma forma?

- Bem, meu amigo, todos sabemos que estamos no meio com o qual nos afinizamos e que cada qual é responsável pela construção de suas próprias fronteiras fluídicas. Então, seja por idealismo, seja por necessidades evolutivas, seja pelas duas causas, inumeráveis criaturas encarnadas se acham nestas condições, vivendo e trabalhando no meio desse cipoal de conflitos vibratórios, precisando manter o testemunho do Bem. E, se assim estiverem atentas, construirão para si quais “casulos” protetores que repelirão a ação inferior dessa massa viscosa e deletéria, além de se sintonizarem com as forças sublimes da Vida Superior que sustenta seus adeptos com recursos energéticos indispensáveis para o abastecimento do soldado em pleno campo de batalhas da existência. Vamos, então, observar que, nas diversas regiões de uma cidade, existirão concentrações de energia positiva, sobre as quais a densidade escura não é capaz de pairar. Como vórtices poderosos, nessas áreas se localizam instituições amorosas dedicadas à construção de uma nova consciência, atraindo os Espíritos Superiores, que aí se concentram para espalharem mais e mais a semente do Bem e as orientações para as horas difíceis.

Os três acompanhantes seguiam observando as cidades humanas recobertas pela fuligem mental constando que, no seio escuro e macilento daquele monstro em forma de nuvem, brotavam pequeninos fulcros luminosos, algo semelhantes a tenros brotos que emergiam do solo lodoso pela ruptura da casca sob a terra. Eram sementes de força que, aqui e acolá, conectavam a realidade humana às emissões superiores, segundo a descrição que Bezerra seguia lhes dando da cena sob seus olhares:

- Essas pequenas pérolas de luz que veem surgir, apesar da densa nuvem que recobre a Terra, são centros religiosos, hospitalares, educacionais que ainda mantêm uma forte vivência no ideal superior do Espírito e na defesa dos valores do Bem, da Paz, da Esperança ou da Fé. Por esse motivo, são amparados pelas forças superiores como celeiros que sempre recebem a carga dos grãos sublimes para que prossigam na difícil tarefa de manter acesa a luz da virtude no âmago da tempestade. Assim, observem que, provenientes do Alto, conectam-se tais sementinhas às emissões luminosas de que havia-lhes falado antes de iniciarmos nosso passeio, reconhecendo o valoroso esforço para superarem as adversidades fluídicas do ambiente onde se enraízam, vencendo a escuridão das nuvens turbulentas e dos pensamentos inferiores para porto seguro ou abrigo salvador.

Lucius;
Psicografia: André Luiz Ruiz;
Do livro: Herdeiros do Novo Mundo, cap 14.

FRATERLUZ
 

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