Manter-se cristão no meio de criaturas que não amam o Cristo (Lucius)

Muitos podem pensar que a maior carga de trabalhos de uma igreja qualquer esteja no atendimento dos desajustados que lhe busquem o amparo, dos famintos que lhe batem à porta, dos enfermos físicos ou morais que chegam em desespero, dos homens sem fé que querem resolver seus problemas com os favores divinos. 

Tudo isso é matéria-prima da casa de Deus, naturalmente aberta para servir de entreposto de Esperança e escola do Espírito, ensinando as criaturas como fazer para superar os problemas originados nas tristes teias da ilusão dos sentidos, das ambições desmedidas, das vaidades sem controle, dos excessos variados. Nessa faina, as casas religiosas possuem o objetivo direto, servindo como porto para os navios avariados realizarem reparos, reabastecimento, e receber novas cargas a serem transportadas para outros destinos.

Para que isso possa acontecer, as diversas agremiações doutrinárias precisam estabelecer um organograma de atividades, desenvolvendo departamentos formais ou informais, criando áreas de atendimentos específicos, objetivando dar uma dinâmica mais efetiva nas tarefas a que se proponha.

Então, supondo que estejamos em uma igreja católica, é necessário que quem esteja dentro do templo escute e compreenda a palavra do celebrante para que a cerimônia não fique prejudicada em seus objetivos de consolar os desesperados pela força da palavra evangelizadora.

Supondo que essa mesma igreja mantenha um serviço de amparo aos miseráveis e famintos, precisará possuir um local adequado onde trabalhadores receberão as solicitações de alimento, de roupa, de medicamentos e darão a solução adequada à cada necessidade. Precisará haver um local para armazenamento dos víveres, dos remédios e vestimentas, organizados de acordo com as numerações, as necessidades alimentares e as doenças principais, facilitando o atendimento rápido e eficaz de cada necessitado que bata à porta da instituição.

No entanto, se esse trabalho pode consumir muito tempo e esforço dos próprios trabalhadores voluntários daquela igreja, no idealismo que dá vida às exortações evangélicas recomendadas nos sermões, que pensar se, entre os voluntários que lá prestam serviços, entre os próprios trabalhadores do culto, encontrássemos ladrões surrupiando os alimentos destinados aos famintos da rua? Que pensar se, entre os servidores bem postos na vida, que podem pagar consultas e adquirir remédios, encontrássemos os que desviassem as medicações destinadas aos enfermos, carregando-as para suas casas ou estabelecendo um mercado negro, sem o conhecimento do sacerdote que confia nos seus ajudantes encarnados?

Que pensarmos das atitudes mesquinhas de trabalhadores voluntários que, às escondidas do principal responsável pela igreja, transformassem o atelier de costura destinado aos humildes em uma loja para abastecer seus guarda-roupas privados, selecionando e levando para suas casas as peças em melhor estado, deixando aos pobres apenas os refugos mais andrajosos? Isso seria algo muito triste e desalentador, não é?

Pois estejam seguros que, no caso que cito como exemplo, o problema mais grave do pobre sacerdote bem intencionado, não é o povo faminto que busca seu colo de pai para encontrar lenitivo. O problema mais pungente é o da falta do idealismo sincero entre os que se candidatam ao serviço do Bem. Acostumados às trocas e aos negócios mundanos, a maioria das criaturas perdeu-se no cipoal dos interesses, não lhes pesando na consciência o fato de estarem tirando a comida da boca de miseráveis famélicos, a roupa de mendigos esfarrapados, o remédio de enfermos infelizes.

Esse é dos mais graves problemas do Cristianismo na Terra. Manter-se cristão no meio de criaturas que, em sua maioria, não amam o Cristo, os que fazem belos discursos sobre o idealismo e o amor ao próximo, mas que, infelizmente, só pensam em si mesmos.

Lucius;
Do livro: Herdeiros do Novo Mundo, cap. 12;
Psicografia: de André Luiz Ruiz.


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