Despreparo dos servidores do Bem – a doença da vontade (Lucius)

Adelino comenta com seu instrutor suas preocupações com relação ao despreparo dos servidores do Cristo. Abaixo está o interessante diálogo que se sucedeu…

- Surpreende notar o tamanho do despreparo não somente do povo que acorre à casa de Deus, mas, muito mais grave, o dos que se candidatam a ser seus servidores qualificados, trabalhando nas dependências das instituições sob a confiança de seus dirigentes encarnados e desencarnados. 

Ouso afirmar que, dentre os problemas evidenciados na nossa rápida visitação, quase todos estavam vinculados a desajustes na área do sexo ou da ambição. Essa constatação surpreendeu-me porquanto, em realidade, sempre aprendemos que o sexo é das mais nobres e lindas manifestações das forças superiores. Supor que criaturas sem berço e sem orientações tenham escolhido a estrada tortuosa dos prazeres desenfreados ou do cultivo da posse não é de se espantar. Mas imaginar que pessoas esclarecidas, cultas, de bom padrão intelectual e, mesmo, dominando certos conceitos religiosos importantes venham se entregando a tais desequilíbrios da mente, isso é estarrecedor.

- Sim, meu amigo. Os desajustes da afetividade induzidos pela perniciosa proliferação de chamamentos eróticos é recurso habilmente manipulado pelas forças inferiores, no intuito de manter o ser encarnado sob o jugo pesado das emoções animalizadas dos prazeres. Naturalmente que o sexo não pode ser culpado por tais desatinos, tanto quanto o gosto agradável de certos alimentos não pode ser culpado pela obesidade dos que deles abusam.

No entanto, por saberem da carência dos seres, das suas ligações ainda tão fortes e resistentes com as coisas fáceis, estas forças inferiores, que lutam as últimas lutas para manterem o domínio sobre este planeta, investem pesadamente na proliferação de tais chamamentos à consciência animalizada dos homens e mulheres de hoje, amolentados pelo exercício do prazer fácil ou pelo exercício do egoísmo que quer possuir sempre mais. Para se permitirem atuar dessa maneira, desculpam-se com as alegações de que se Deus deu ao homem esses direitos, não há crime algum em desfrutá-los. Então, o que observamos presentemente, é a ação desses espíritos na hipnose dos incautos, inoculando-lhes a pior de todas as doenças: A DOENÇA DA VONTADE.

Não ignoram vocês que a humanidade luta contra inumerável gama de enfermidades que fustigam da pele aos mais profundos recônditos do esqueleto calcário.

No entanto, o homem ainda não se apercebeu de que a vontade enfermada é a porta de entrada da maioria das doença do corpo e do espírito. E a sociedade atual, submetida por tais conceitos imediatistas, cultiva a lei do mínimo esforço, da fraqueza do querer, da exploração de tudo o que é mais fácil e prazeroso, sem se incomodar com os efeitos negativos que isso produz a médio ou longo prazo na vida dos que assim se conduzem.

Por tais motivos, o exercício dessa poderosa alavancado Espírito tem sido menosprezado, redundando a vida social numa constante busca de nada fazer ou de se fazer cada vez menos, almejando uma cada vez maior remuneração material pelo ócio. Malandros que se aposentam cinco vezes são vistos como heróis da esperteza, a serem imitados. Inescrupulosos que enriquecem da noite para o dia graças a golpes milionários servem de inspiração para mentes fracas na virtude, que os invejam e sonham conseguir o mesmo sucesso. Enaltecendo as facilidades do “dolce far niente” (doce fazer nada), a sociedade tem adestrado seus membros a se manterem à custa de estimulantes químicos, a descobrirem novas emoções através de bebidas, a se fantasiarem com roupas e apetrechos da vaidade, a desenvolverem bem as aparências, como se um espantalho bem vestido pudesse imitar um Homem de Verdade.

Para se ser alguém que tenha consciência, que saiba o que deseja e o que fazer para que seus valores possam ser construídos, não basta ter uma roupinha bem recortada e com as cores combinando, muito menos usar jóias e perfumes ao sabor das conveniências e modismos.

Como o exercício da vontade tem sido usado somente para garantir facilidades imediatas e o sacrifício seja visto como insanidade ou loucura por parte daquele que o vivência, desenvolvemos essa sociedade que enaltece o golpismo, a falta de caráter, o aproveitamento de oportunidades e a necessidade de conquistar vantagens. Então, para dirigir os vivos, basta que os mortos manipulem sua vontade frouxa no sentido de encaminhá-la para a vivência dos prazeres mais inferiores, os que são mais gostosos e exigem menos esforço de contenção.

A técnica é muito simples: Primeiro amolentam-lhes o querer, fazendo com que não se preocupem com disciplinas desagradáveis, com contenção de seus impulsos. Depois, exploram as suas fraquezas, já não mais combatidas pelas sentinelas da virtude e de uma consciência desperta. Então, acenam à animalidade milenar como o caçador oferece o queijo ao rato na armadilha que o prenderá, oferecendo-lhes o cultivo do possuir e do gozar. Vejam que, em primeiro lugar, essas inteligentes entidades atacam a trincheira da consciência, neutralizando uma vontade virtuosa em favor do enaltecimento de uma vontade viciada e instintiva. Depois, oferecem-lhes o que a primitividade animal mais deseja, com base na satisfação dos instintos milenares da animalidade.

Produzindo prazer e gerando emoções intensas, a sexualidade e o possuir são duas alavancas muito importantes para o melhoramento do Espírito que, com eles, poderá construir relacionamentos importantes para o amadurecimento de suas noções sobre a vida. Graças a eles, os homens formarão famílias e desenvolverão a inteligência para os ganhos materiais, melhorando a própria Terra. Todavia, constitui o caminho que as entidades negativas se valem para manter o candidato a HOMEM/ESPÍRITO preso nas algemas do HOMEM/CARNE.

Por isso, aqui em nosso centro, não temos trabalho somente com os encarnados em desequilíbrio material ou moral, nem somente com os espíritos que chegam no estado de perturbação e ignorância que vocês tão bem conhecem.

Precisamos modelar, igualmente, o barro frágil dos nossos amigos encarnados que se apresentam como ferramentas do Bem, que, às vezes, nos dão mais trabalho do que os outros, perdidos e desalentados.

- Mas os trabalhadores conhecem a doutrina de Amor e a existência do mundo espiritual? – comentou Adelino, enfático.

- E serão mais responsabilizados por isso, em caso de fracasso deles mesmos. Apesar de tudo, eles continuam a ser os arquitetos das próprias vidas. O sucesso que conquistem ou o fracasso que apresentem serão os demonstradores de seu caráter. Muitos trabalhadores espíritas se imaginam às portas do Paraíso, credores de todos os favores do Mundo Espiritual porque comparecem às reuniões uma ou duas vezes por semana. Acham-se no direito de esperar de nós aquilo que só compete a eles construir. Revestem-se de uma presunção de santidade somente porque recebem meia dúzia de entidades que lhes são encaminhadas até para, falando por intermédio deles mesmos, poder alertá-los dos equívocos que, como médiuns, já não deveriam mais cometer.

Lucius;
Psicografia: André Luiz Ruiz;
Do livro: Herdeiros do Novo Mundo, cap. 12.

 

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