Sono Inimigo (Durante a Palestra e nos Estudos do Espiritismo - Vianna de Carvalho - Divaldo Franco)

A disciplina mental constitui fator decisivo para o êxito de qualquer empreendimento.

Sem uma equilibrada ordem de ideias, hábito salutar de meditação, exercício de fixação do pensamento nos informes, atenção cuidadosa, os tentames para a liberação do pessimismo e dos pontos de vista arraigados fazem-se precários, quando não totalmente inócuos.

Isto porque a acomodação natural ao “já sabido” predispõe o homem a uma indiferença pelo conhecimento novo, quando não lhe ocorre a obliteração do discernimento, através de uma anestesia nos centros da razão.

No que tange ao estudo e à assimilação do Espiritismo, o fenômeno amiúde se repete desanimador.

A quase generalidade de adeptos acostumados às expressões do culto exterior das religiões, ao transporem a ponte para a comunhão direta, sem as fórmulas nem os condicionamentos externos a que se habituaram, padecem estranhos mal-estares, inquietação e derrapam no sono dominador.

Ultrapassados os primeiros momentos de deslumbramento e entusiasmo, sutilmente a modorra se lhes instala e os desprevenidos aprendizes tombam vitimados pelos vapores entorpecentes.

A questão exige de imediato uma cuidadosa e contínua reação, a fim de impedir-se o agravamento do mal.

O estudo de qualquer doutrina impõe o contributo do esforço e da persistência.

Para uma perfeita aprendizagem do conteúdo da Doutrina Espírita, uma leitura apressada e interrompida não produz o resultado desejado. Não obstante a quase totalidade das suas lições morais poder ser armazenada em decorrência de breves exames, os seus complexos mecanismos filosóficos e científicos — base para a valorização do comportamento religioso — exigem maior soma de esforços. Isto, porém, somente será possível mediante um estudo metódico, organizado, contínuo, através do qual se abarcam os conhecimentos libertadores, fonte da perfeita integração nas nobres informações de sabor insuperável que são os princípios doutrinários.

A inúmeros candidatos, dotados de fé natural, parece não interessar as complexidades doutrinárias, atendo-se, naturalmente, à elevada feição ético-religiosa com que se enriquecem de paz.

Dedicam-se à prática da caridade, por todos os meios possíveis, participam dos trabalhos práticos, promovem Cultos Evangélicos do Lar; todavia, logo se candidatam ao esclarecimento pela leitura ou audição das mensagens, nas conferências, são tomados pela insuportável sonolência.

De início, deve-se levar em conta o cansaço, a monotonia da voz que lê ou a falta de motivação do ensino dado pelo palestrante. Além disso, convém salientar-se a psicosfera do recinto, saturada, quiçá, de fluidos perniciosos.

Todavia, não se deve considerar secundária a interferência de mentes viciosas do Mundo Espiritual, adversárias algumas dos candidatos à renovação, que o intoxicam, perturbam ou produzem hipnose de longo alcance com que os impedem de aprender, melhorar e progredir.

Apresentam-se esses companheiros loquazes bem dispostos, enquanto se movimentam. Logo, porém, se aquietam, ao invés da interação mental na concentração, assimilam o torpor que os invade, e dormem, avassalados pela força que lhes parece superlativa.

Pessoas asseveram que se encontram atentas e melindram-se quando admoestadas, informando “estar ouvindo tudo”. Outras justificam que se trata de fenômeno de “desprendimento mediúnico para trabalhar em parcial desdobramento”. Terceiras alegam que em “espírito aprendem melhor, adquirindo cabedal que retorna à consciência no momento próprio”.

São alegações desculpistas, sem fundamento, carecentes de lógica.

Impostergável o esforço de combater a “epidemia da sonolência” nas atividades e estudos da Doutrina Consoladora.

Ensejar-se um relax antes de dirigir-se à Sociedade Espírita é condição valiosa para predispor-se convenientemente.

Poupar-se à alimentação exagerada ou de difícil assimilação, a fim de não ser molestado pelo fenômeno orgânico da digestão.

Motivar-se interiormente para o que vai ler ou ouvir, participando dinamicamente, ao invés de deixar-se apenas arrastar, reflexionando, discutindo mentalmente o assunto exposto.

Sentar-se bem, não, porém, comodamente em exagero, que propicia, pela má postura, o fácil adormecimento.

Orar antes dos sinais da indisposição, renovando a paisagem psíquica.

Sorver água fresca ou borrifar a face com água fria quando a ocorrência suceder no lar e reencetar a tarefa.

Acima de todas as regras expostas, insistir, porfiar, trabalhar-se até criar condições salutares, hábito novo para as ideias revitalizadoras e abençoadas de que não pode prescindir no compromisso da evolução espiritual.

O sono à hora em que se impõe a vigília torna-se inimigo cruel.

Nenhuma chance deve-se dar ao sono, nos recintos de estudo e aprendizagem, locais de meditação e prece, Santuários do intercâmbio mediúnico e de iluminação interior.

Ou o candidato vence o sono ou o sono desta ou daquela procedência, especialmente o produzido pelos Espíritos Inferiores, inutiliza e vence o aprendiz das lições superiores, impedindo-o temporariamente de avançar e com ele se comprazendo, retidos na retaguarda.

Vianna de Carvalho;
Psicografia: Divaldo Franco;
Do livro: Enfoques Espíritas; cap. 38. 


Um comentário:

  1. Tem-se a mania de atribuir aos espíritos a responsabilidade de nossos erros e culpá-los pelo sono durante palestras e estudos espíritas, não foge à regra. No entanto, há que se considerar o desinteresse gerado pela monotonia do palestrante e o tempo muiiiiiiito lonnnnnngo da explanação que repete o que já foi falado, em idas e vindas mentais extenuantes, desnecessárias e contraproducentes, a fim de preencher o tempo estabelecido para a fala. Geralmente o que o palestrante expõe em 1 ou 2 horas de palestra, poderia muito bem ser compactado em 20 minutos, se o palestrante possuísse o dom da síntese. Mas não. Leve-se em conta também, além do desinteresse pelo assunto, o cansaço natural de quem trabalhou duro o dia todo. Espíritos inferiores, claro, influenciam também mas culpados são os encarnados mesmo, que abusam da paciência da platéia repetindo ensinamentos, citações e consultas em livros, gerando a sonolência nos ouvintes que esgotaram sua paciência tentando manter os olhos abertos e reprimindo os bocejos mas, haja Deus, ninguém merece.

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