Os casos espíritas mais populares do mundo

Livro do criador de Sherlock Holmes mostra como ele também se preocupava com os espíritos


A vida é mistério. E difícil viver sem ter que enfrentar esta característica que persegue o ser humano. Um dos temas mais abrangentes da espiritualidade diz respeito aos supostos fenômenos espíritas – o que é um grande mistério humano. Acreditar ou não pode ser um exercício de fé ou científico – dependendo do ponto de vista.

É comum dizer que o espiritismo não seria bem uma religião, mas espécie de Filosofia. Uma coisa nem outra, ou talvez as duas, o fato é que esta prática humana de crenças e fé se consolidou nas últimas décadas a ponto do espiritismo colonizar cinemas e várias outras espécies de produção cultural – como o teatro e a música.

Antes do modismo espírita, entretanto, existiam pensadores e intelectuais como Arthur Conan Doyle que se dedicaram a estudar o assunto com dedicação.

O escritor inglês, médico e autor do famoso personagem Sherlock Holmes, viveu como um detetive em busca de evidências sobre a espiritualidade.

O livro A história do Espiritualismo – de Swedenborg ao início do século XX é um relato apaixonado e ao mesmo tempo metódico sobre as experiências que Arthur Conan Doyle entendia ser considerável no campo da espiritualidade.

Em seu livro, Conan Doyle perpassa episódios como os irmãos Davenport, o caso de Hydesville, as irmãs Fox e a polêmica italiana Eusapia Palladino. Trata também sobre fotografias de espíritos, ectoplasma e a relação entre o espiritualismo e a guerra.

O mais interessante é que o autor enfrenta os temas centrais do espiritismo, caso da reencarnação. Em um dos capítulos, ele trata o assunto com reservas: “Os espiritualistas da Inglaterra não têm decisão firmada sobre reencarnação. Alguns aceitam, muitos não. A atitude geral é no sentido de que, como se não pode provar a doutrina da reencarnação, é melhor excluí-la da política ativa do espiritualismo”, diz.

A posição cautelosa não significa, todavia, que ele deixe de acreditar. Ele apenas acredita que sem provas contundentes, o melhor é deixar o tema distante das certezas – e ele acreditava em muitas coisas relativas ao espiritualismo.

O livro de Conan Doyle realiza um passeio pelos casos mais emblemáticos que conheceu. Ele cita, por exemplo, a clarividência de Swedenbourg, que, no século XVIII, atraía os olhos de toda a vizinhança. Conan Doyle narra as experiências de Swendebourg, detalhando as visões dele. O espiritualista acreditava que nada se alterava com os homens após a morte. “O ser humano continua o mesmo em todos os aspectos, embora mais perfeito do que antes, levando com ele suas faculdades bem como os hábitos mentais adquiridos, as crenças e os preconceitos.”

Conan Doyle assume as informações escritas e narradas por Swendebourg como verdadeiras: “Estes são alguns respingos do imenso tesouro de informações, enviado por Deus ao mundo por meio de Swendebourg”, descreve Conan Doyle. As visões do espiritualista, claro, se forem verídicas, responderão inúmeras dúvidas dos seres humanos. A morte, por exemplo, “reveste-se de suavidade, em virtude da presença de seres celestiais que ajudam o recém-chegado em sua nova existência”. Após a morte, existiria um repouso e, em seguida, a volta a um estado semelhante ao normal. “Os que habitam os céus também não estão num lugar permanente: trabalham para alcançarem regiões mais elevadas”.

Casamento

Pela descrição de Swendebourg, existe até mesmo casamento espiritual. Homem e mulher podem se constituir uma unidade humana completa. Detalhe: os casados continuam juntos, mas precisam respeitar uma regra – precisam, de fato, ser intimamente ligados por sentimentos recíprocos de simpatia.

Conan Doyle considera Swendeborg como o primeiro dos médiuns modernos. E faz questão de ressaltar que seu conhecimento foi adquirido por meio dos espíritos.

Outra referência citada em seu livro diz respeito a Andrew Jackson Davis, de Nova Iorque, que é descrito como “débil de corpo e limitado de mente”.

Conan Doyle diz que ele era um tubo condutor de reservatórios de conhecimentos. Na descrição do autor do livro, Davis servia para tudo. Médicos, por exemplo, o utilizavam para realizar diagnósticos. “O corpo humano tornava-se transparente diante de seus olhos espirituais.”

Não bastasse, na visão de Conan Doyle, Davis era culto sem ter lido qualquer livro. Causava espanto quando discutia assuntos que não conhecia. As pessoas ao seu redor sabiam de suas parcas capacidades mentais. Daí o espanto.

Não bastassem tais habilidades, Conan Doyle ainda chama atenção para o poder de profecia do espiritualista, ao antecipar a criação do carro e da máquina de escrever.

O autor do livro reproduz a reflexão de Davis: “Estes carros serão impulsionados por estranha, bela e simples mistura de gases aquosos e atmosféricos, tão facilmente condensados, tão facilmente inflamados, tão unidos a uma máquina algo semelhante às atuais quanto ocultos e manejáveis entre suas rodas dianteiras”, disse em 1856.

Espíritos que resolvem crimes

Outra história de Nova Iorque, agora em Hydesville, tornou-se habitual nas narrativas espíritas: o uso de espíritos para revelar autores de crimes. Os episódios são tão comuns, que redes de TV divulgam séries inteiras para tratar destas espécies narrativas. Em Goiás mesmo já ocorreu um episódio em que um juiz aceitou as narrativas de um ‘espírito’ – fato considerado polêmico nas academias jurídicas.

No caso de Hydesville, Conan Doyle concentra suas preocupações com uma ‘casa fantasma’, onde a família Fox teve contato com a vítima de um terrível assassinato motivado por dinheiro.

Italiana

Um dos casos relatados pelo escritor trata de Eusapia Palladino, italiana que nasceu em 1854 e viveu até 1918. Trata-se de figura polêmica, com muitas críticas e elogios no meio científico. Tentaram desnudar a mulher, mas na época, que é o que interessa, poucos conseguiram algum avanço na estratégia de denegrir a esotérica.

Evidente, Conan Doyle se coloca ao lado da mulher. Palladino contava com 14 anos quando começou a praticar ações sobrenaturais, como levantar objetos. Estes fatos ocorriam aos olhos de todos. Mágicos e cientistas debateram o fato nas universidades.

Um dos maiores criminologistas da época, César Lombroso, foi chamado para analisar suas práticas. Cético, acabou se convertendo ao espiritismo por conta do que viu: "Estou cheio de confusão e lamento haver combatido, com tanta persistência, a possibilidade dos fatos chamados espíritas."

Um prêmio Nobel de Medicina, Charles Richet, também entrevistou Palladino. A conclusão: seriam autênticas as levitações de mesa e demais fenômenos de efeitos físicos.

A mulher seria, então, uma unanimidade? Não. Outros autores da época relataram situações diferentes das narradas por Conan Doyle. W. S. Davis, por exemplo, escreveu uma carta para o famoso mágico Houdini, que teria descoberto os truques de Palladino. A carta nega os poderes: "Bibliotecas nesse país (EUA) e Europa contêm muitos livros nos quais se afirma que Eusápia possui poderes ocultos cientificamente comprovados. Gerações por séculos provavelmente serão influenciadas por tais livros. Eles existem apenas para criar superstição e ignorância e é uma pena que a circulação deles seja permitida. Eusápia é uma das maiores enganadoras do mundo (...) e conseguiu enganar mais cientistas que qualquer outro médium."

Diário da Manhã
Welliton Carlos
 


FRATERLUZ

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