O Sonambulismo: Independência do Espírito

A Folha Espírita entrevistou o Dr. José Roberto Pereira Santos (Secretário da AME-Brasil), reumatologista e médico intensivista

Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo, com residência em Medicina Interna e Reumatologia no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, José Roberto Pereira Santos, 47 anos, é especialista em Reumatologia pela Sociedade Brasileira de Reumatologia e em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Atualmente, é o coordenador e médico de Rotina da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Antônio Bezerra de Farias, em Vila Velha (ES), e secretário da Associação Médico-Espírita do Brasil. Nesta entrevista à Folha Espírita ele fala sobre o sonambulismo, que, após vários questionamentos do meio espírita, tornou-se seu objeto de estudo. 


Folha Espírita – O que é o sonambulismo?


José Roberto Pereira Santos – A palavra sonambulismo origina-se do latim somnus = sono + ambulare = marchar, passear. O transtorno de sonambulismo diz respeito a episódios repetidos de comportamento motor complexo iniciado durante o sono, freqüentemente durante a primeira terça parte do sono. Nos episódios leves, o indivíduo pode simplesmente sentar-se na cama, olhar em volta ou se remexer no leito. Mais tipicamente, o indivíduo levanta-se da cama, podendo ir ao banheiro, sair do quarto, subir ou descer escadas e mesmo sair de casa. Pode usar o banheiro, comer e falar durante os episódios, que duram, em sua maior parte, de alguns minutos a meia hora. No entender da Medicina, o sonambulismo é tratado como uma parassonia. As parassonias são fenômenos físicos compreensíveis, que acompanham o sono e envolvem atividade muscular esquelética ou mudanças do sistema nervoso autônomo, ou ambas. 


FE – E pelo lado espiritual?

Santos – Segundo o conhecimento trazido pelos espíritos (O Livro dos Espíritos, questão 425), o sonambulismo “é um estado de independência do espírito (emancipação da alma), mais completo do que no sonho, estado em que maior amplitude adquirem suas faculdades. A alma tem então percepções de que não dispõe no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito”. Esta é a descrição do sonambulismo natural, que é um fenômeno produzido espontaneamente. Existem algumas pessoas dotadas de uma organização especial que podem, através de ações magnéticas, entrar em estado sonambúlico, que nesse caso é denominado sonambulismo magnético. 


FE – Por que as pessoas que são sonâmbulas levantam, fazem coisas, mas não se lembram de nada depois?

Santos – Uma das características do sonambulismo é que, ao ser despertado do episódio, ou pela manhã, quando acorda, o indivíduo tem amnésia para o episódio. Tal fato não tem uma explicação satisfatória pela ciência médica. De acordo com as elucidações espíritas, no sonambulismo, o espírito está na posse plena de si mesmo. Os órgãos materiais, achando-se de certa forma em estado de catalepsia, deixam de receber as impressões exteriores (O Livro dos Espíritos, questão 425). O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio espírito; é sua alma que, nos momentos de emancipação, vê, ouve e percebe, fora dos limites dos sentidos (O Livro dos Médiuns, item 172). No sonambulismo, portanto, o cérebro físico não é envolvido nas percepções do episódio. Quem percebe é o corpo espiritual, e é uma percepção bem mais ampliada do que no sonho, em que as percepções têm a participação do cérebro físico. Como não há registro cerebral das impressões, o indivíduo não se recorda de nada, ao acordar. 


FE – Existe alguma semelhança entre sonambulismo e atividade mediúnica inconsciente? Se sim, explique o que acontece com o espírito nos dois casos...

Santos – O sonâmbulo age sob a influência do seu próprio espírito e exprime o seu próprio pensamento, enquanto o médium inconsciente exprime o pensamento de outrem, ou seja, é instrumento de uma inteligência estranha. Segundo O Livro dos Médiuns (item 172), o espírito que se comunica com um médium também o pode fazer com um sonâmbulo. Muitos sonâmbulos veem perfeitamente os espíritos e os descrevem com tanta precisão quanto os médiuns videntes. Podem confabular com eles e transmitir-nos seus pensamentos (ver item 173 de O Livro dos Médiuns). Nesse caso, pode-se considerar o sonambulismo como uma variedade da faculdade mediúnica, mas não uma mediunidade inconsciente. O processo de sonambulismo magnético, induzido por passes energéticos, é utilizado por alguns grupos mediúnicos, mormente aqueles que têm treinamento com a técnica da apometria (desdobramento magnético), para intensificar as percepções medianímicas dos médiuns. 


FE – Ouvimos muito falar que as pessoas sonâmbulas são, geralmente, adolescentes. Isso é verdade? Por quê? 

Santos – Não. O sonambulismo ocorre com maior freqüência entre os 4 e 12 anos de idade, e sua ocorrência diminui a partir dos 15 anos, sendo mais raro no adulto. Como causa do sonambulismo no adulto, devem ser afastados alguns distúrbios médicos como: síndrome da apnéia do sono, uso ou abuso do álcool, doença febril, privação do sono, gravidez e medicamentos específicos (carbonato de lítio e agentes com efeitos anticolinérgicos). 


FE – Mas há uma explicação sobre o porquê de ocorrer com maior freqüência entre 4 e 12 anos?

Santos – Não li, até hoje, nenhuma explicação para essa ocorrência, mas com o conhecimento espírita entendemos que nada ocorre por acaso e nenhum atributo da alma (nesse caso o sonambulismo) aparece para prejuízo de alguém. Acredito que a ocorrência do processo em crianças é uma oportunidade de aprendizado do espírito, na fase infantil da encarnação (em que se encontra mais influenciável aos exemplos e ensinamentos), nos momentos de maior desprendimento espiritual do sonambulismo, em que pode receber instruções e diretrizes dos bons espíritos para uma melhor evolução. 


FE – O sonâmbulo corre riscos? Deve haver sempre alguém por perto? Se sim, por quê?

Santos – Riscos existem. Acidentes como quedas de janelas e de escadas, ou acidentes com objetos pontiagudos ou de vidro podem ocorrer. Não é sempre que os pais percebem as “caminhadas” da criança e, portanto, alguns cuidados devem ser tomados para garantir a segurança do sonâmbulo: evitar o uso de beliches e camas altas, trancar portas que possam levar as crianças para fora de casa, fechar ou colocar grades em janelas, impedir o acesso para escadas e esconder objetos pontiagudos ou que possam machucar as crianças. 


FE – Como ficam essas crianças que, durante o sonambulismo, se atiram de prédios, vindo a desencarnar? Não existe proteção espiritual nesse caso?

Santos – A ocorrência de traumatismos durante o sono ocorre geralmente em adultos. Nesses casos deve ser afastada a associação com a ingestão de álcool. Nos casos de crianças é importante recordar que elas são espíritos encarnados com um passado de realizações positivas e negativas. No momento do sonambulismo, estado em que a alma encontra-se mais emancipada do que no sono, a alma desprendida, caso esteja em consonância vibratória com as regiões espirituais inferiores, pode sofrer maior interferência de espíritos obsessores, através de técnicas hipnóticas, que influenciam o espírito do sonâmbulo no comando da atividade mecânica do seu corpo físico, conforme as suas orientações. Por isso, devemos recomendar às crianças sonâmbulas e aos seus pais a prática da oração antes do sono, solicitando a proteção dos bons espíritos, bem como uma vivência familiar diária, baseada em uma orientação cristã. O culto evangélico no lar, qualquer que seja a orientação religiosa da família, é um excelente instrumento de equilíbrio familiar, colaborando de forma positiva para uma melhor ambiência em que vive o sonâmbulo. 

Fonte: Folha Espírita


 

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